segunda-feira, 12 de março de 2012

“Preciso fazer com que minhas palavras cruzem as cercas, suba os morros, deslizem nas encostas e cheguem aos teus ouvidos. Preciso escolher as palavras certas, preciso canalizar todos os esforços pra tirar daqui de dentro, preciso catar as contas que se espalharam pelos meus cantos e formar um colar que cante o que trago aqui. Minhas mãos caducas riscam e riscam, mas não me satisfazem, não era isso que queria dizer, não eram essas palavras que queria que ouvisse. Como seduzir teus olhos menino, como que faço pra você me ler? Sonhei contigo noite passada, acordei no meio da noite e fiquei olhando o céu cheio de neblina, as noites ficam tão mais escuras antes de amanhecer. O dia parou de girar para que ficasse olhando, a cidade eram milhares de luzes piscando tão distante sob o céu negro. O mundo inteiro era uma vastidão de pontinhos amarelos, uma vastidão que cabia numa bolinha de gude que revirava inquieta enquanto a noite aquietava os corpos, nenhum som me escapava, mas dentro de mim havia gritos e burburinhos, vozes ecoando tão destoadas que não conseguia entender nenhuma delas. Mas preciso que tudo vire uma sinfonia harmoniosa, preciso que você entenda tudo menino, entenda essas palavras confusas que saem de mim. O ar frio que vinha de fora envolvia meu rosto, meus braços se arrepiavam dentro da blusa fina demais para o hálito do dilúculo. Não queria voltar pra aquela cama estranha na qual me revirava, queria te abraçar pra voltar pro sonho, não, não queria aquela cama vazia, queria poder adiar teu sono, porque adoro tua voz sonolenta, adoro a tua luta contra o meu gosto por te ver dormir. Mas aquela seria mais uma noite insone. Mais uma noite revirada e longa, como vou explicar o que nem eu entendo? Mas ainda é madrugada e o dia vai demorar, amo essa face da noite porque agora o tempo parece indistinto, agora é mais fácil de passear sobre eras e séculos, é quando o tempo parece suspenso, onde tudo parece possível de se conceber. Agora parece fácil te contar tudo isso, agora poderia gritar teu nome por essa janela áspera, se pudesse ser outro tempo, aonde minhas palavras não parecessem estranhas, onde sentir não fosse feio, como arrancar isso de mim? Elas precisam pular o muro, precisam romper essa barreira de medo, camadas e camadas de tanto receio que me envolvem centímetro por centímetro. Preciso que você ouça menino, preciso que você saiba, isso não foi feito pra ficar aqui dentro, minhas palavras são andorinhas com asas quebradas que querem voar pra você, como tudo que te pertence, como meus pensamentos que não conseguem te privar de assunto nenhum. Elas precisam chegar, junto com todas as borboletas que brincam no meu estomago, elas precisam te acordar cedinho com um sorriso largo, elas precisam fazer uma graça no meio de uma tarde chata, elas precisam ser um afago pra saudade no meio de noite. Menino, meu menino enorme que quero colocar no colo, tem tanta coisa que quero dizer, tanta coisa; olha menino, escuta, eu amo você.”

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