Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações. Aqui é onde eu me esvazio, pra depois o mundo me encher.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
“Durante o dia frequentava a biblioteca. Tinha as palavras dos livros como amigas, nelas ela encontrava o conforto que procurava. Durante a noite estava na avenida. Os rostos dos desconhecidos não a assustavam, não os guardava na memoria. Para pagar o aluguel, tinha que alugar o próprio corpo. Distante de casa desde os dezoito anos. Sobrevivendo em uma sociedade onde as pessoas caminham lado a lado, mas não observam a sua volta. Procurava um abrigo dentro de si mesma. Sob o pretexto de se proteger do preconceito, não assinava o seu nome. A prostituta também era poeta. Ao deixar o seu telefone na porta do banheiro da estação de metrô, ela também deixava uma poesia. E se assim o fazia, ou dava ou vendia amor.”
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